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Vida de Flordelis é marcada por tragédias; Filme de 2009 contou história de adoções

A morte do pastor Anderson do Carmo é mais um capítulo trágico na vida de Flordelis, marcada por lutas há décadas. O casal estava junto desde 1993, quando se conheceram. Em 1994, se casaram, e desde então atuavam em projetos sociais.
Hoje deputada federal, Flordelis (PSD-RJ) nasceu e cresceu na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro. Aos 14 anos, perdeu o pai e um irmão, mortos em um acidente de carro.
Ainda adolescente, trabalhou como balconista numa padaria e acompanhava a mãe, Calmozina Motta, no tempo livre. Ela realizava um culto doméstico às segundas-feiras. Como a frequência cresceu, em 1992 foi necessário mudar o local das reuniões para um salão que comportava 60 pessoas.
Em 1993, Flordelis, já com 32 anos, decidiu iniciar um trabalho social com dependentes químicos. “Saía de casa toda quinta-feira de madrugada sozinha para subir os morros e falar com os meninos, conquistá-los e tentar tirá-los do vício”, contou, em entrevista concedida em 2009 ao portal Uol.
“Por causa desse trabalho, me tornei referência na favela. Um dia a mãe de um menino me procurou para dizer que o filho dela tinha sido levado [por traficantes] para ser assassinado. Fui atrás, o encontrei e consegui trazer ele comigo. Vi que meu trabalho estava dando certo quando consegui tirar esse menino do paredão da morte do tráfico. Ele tinha sido pego para ser fuzilado e tinha apenas 13 anos. Foi aí que tudo começou”, relembrou.
Nessa época, Flordelis já havia se casado, tido filhos e sido abandonada pelo marido. Em 1993, por meio do trabalho evangélico, conheceu Anderson do Carmo, por meio dos cultos organizados por sua mãe na comunidade.
Quando se casaram em 1994, segundo informações da igreja, adotaram 37 crianças de uma só vez. Anderson deixou 55 filhos registrados com Flordelis, dos quais quatro são biológicos com a parlamentar.
“Nunca planejei ter tantos filhos, foi uma coisa que aconteceu na minha vida, por causa do meu trabalho. Primeiro, cinco adolescentes da favela vieram morar comigo. Eles tinham vindo do tráfico e queriam mudar de vida. Mais ou menos um ano depois eu fui até a [estação] Central do Brasil atrás de uma menina que tinha fugido de casa também por causa de drogas. Não encontrei a menina, mas achei a primeira bebê, Rayane, que tinha 15 dias e tinha sido jogada no lixo. Levei-a para minha casa. A mãe foi junto comigo, arrependida, mas depois não quis ficar com a criança. Então eu fiquei”, afirmou a cantora e pastora.
Nove meses depois de acolher as dezenas de crianças que estavam abandonada, Flordelis recebeu uma intimação do Juizado de Menores. “Compareci ao Juizado e queriam que eu entregasse as crianças. Eu já tinha obedecido a uma ordem dessas, entregando um menino, e ele foi assassinado pelo pai duas semanas depois. Por isso decidi enfrentar a Justiça e não entregar ninguém, porque eles não eram mais moradores de rua, eram meus filhos”, explicou.
No dia seguinte foram expedidos um mandado de busca e apreensão para as crianças e um de prisão para Flordelis, caso não obedecesse. Ela fugiu com as crianças e ficou escondida por quatro meses na casa de um amigo.
“Nessa época eu saí em todos os jornais como a sequestradora de crianças. Falavam horrores a meu respeito. Então resolvi me apresentar à imprensa. Uma advogada se ofereceu para me ajudar e fomos ao Juizado de Menores. Era um novo juiz e ele me ouviu, disse que eu não podia ficar na favela e fez um monte de exigências, casa com seis banheiros, três quartos. Aceitei o desafio e começamos a mudar”, revelou.
Em 1999, o trabalho de evangelização feito por ela e o marido cresceu, e eles fundaram o Ministério Flordelis, no bairro da Rocha, também na zona norte do Rio. Nessa mesma época, ela iniciou uma carreira de cantora gospel independente. Três anos depois, eles inauguraram juntos o Templo do Ministério no bairro do Colubandê, em São Gonçalo (RJ). A congregação evangélica, atualmente, conta com cinco filiais espalhadas pelo estado do Rio de Janeiro, e era presidida pelo pastor Anderson, com sede no bairro Mutondo, também em São Gonçalo.
Em 2007 o casal fundou o Instituto Flordelis de Apoio ao Menor. Sem condições de alimentar o batalhão de filhos, eles procuraram e receberam ajuda do sociólogo Herbert de Souza, conhecido como Betinho, fundador do projeto Ação da Cidadania, em busca de ajuda.
A história de Flordelis virou filme por meio de uma produtora e distribuidora evangélica lançado em 2009. O documentário, chamado Flordelis – Basta Uma Palavra para Mudar, é narrado pela própria cantora e pastora.
Na época da divulgação do filme, ela contou que Betinho chegou prover a comida para a casa dela por seis meses. “Quando já estava debilitado (Betinho teve HIV e morreu em 1997, vítima de hepatite C), querendo me ajudar, ele acionou um canal de televisão e eu fui entrevistada”, afirmou Flordelis.
No filme, as memórias dos filhos adotivos são remontadas a partir de encenações de atores globais como Bruna Marquezine, Cauã Reymond, Deborah Secco, Fernanda Lima, Reynaldo Gianecchini, Letícia Spiller, Letícia Sabatella e Rodrigo Hilbert. À época, o elenco abriu mão do cachê, que foi revertido para a construção de uma moradia melhor para as crianças.
Para acomodar os 55 filhos (43 mulheres e 12 homens, quatro biológicos), Flordelis e o marido construíram uma casa com dez quartos e sete banheiros. Para sustentá-los, eram precisos 50 kg de arroz, 14 kg de feijão, 72 litros de leite, 52 kg de carne e 600 rolos de papel higiênico mensalmente.
Essa história de superação e amor ao próximo do casal foi interrompida no último domingo, 16 de junho, de forma brutal. Anderson foi assassinado com pelo menos 15 tiros à queima-roupa, e a Polícia Civil está investigando o caso, com suspeita de que três dos filhos do casal tenham praticado a execução como forma de vingança por causa de um suposto caso extraconjugal.
Confira o filme na íntegra:
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