Ultimas Noticias

Fé e silêncio: por que mulheres cristãs ainda escondem a violência doméstica







Por Karina Garcia

Na semana marcada pelo Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado nesta terça-feira, 25 de novembro, dados mais recentes acendem um alerta que também alcança as igrejas: a violência contra a mulher voltou a crescer no Brasil. E mulheres evangélicas são as mais vitimizadas.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 40% das mulheres assassinadas no país professavam a fé evangélica. No primeiro semestre de 2025, o Disque 180 registrou 86.025 denúncias de violência contra mulheres, enquanto o país encerrou 2024 com 1.459 feminicídios, o maior número da série histórica.

A pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil (2024–2025), realizada pelo Instituto Datafolha em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, evidencia a profundidade do problema ao revelar que 37,5% das brasileiras (cerca de 23 milhões) sofreram algum tipo de violência física, sexual ou psicológica no último ano.

Entre as mulheres evangélicas, a prevalência é ainda maior, pois 38,7% relataram episódios de violência, índice superior ao registrado entre mulheres católicas (33,2%). Apenas 6% buscaram ajuda diretamente na igreja. Os números são alarmantes e exigem atenção especial das comunidades de fé, mas os dados mostram, ainda, que as mulheres negras continuam as mais vitimizadas (41,9%), e que a reação mais frequente ao episódio mais grave de agressão foi “não fazer nada” (47,4%).


A pesquisa sugere que a religião é um fator ambíguo na vida de mulheres em situação de violência. Por um lado, igrejas e comunidades, são redes importantes de apoio, acolhimento e orientação. Por outro, interpretações distorcidas da Bíblia podem se tornar barreiras perigosas à denúncia. Esses números reforçam como discursos distorcidos da fé podem contribuir para o silêncio e a permanência de muitas mulheres em relações abusivas.

Por que tantas mulheres religiosas não denunciam?

A dificuldade de denunciar está ligada a vários elementos como o medo, falta de amparo, dependência econômica e, em algumas comunidades, a ideia de que “Deus odeia o divórcio”, de que “é preciso suportar pelo lar” ou de que a mulher deve “orar mais” para que o agressor mude. A pesquisa cita estudos que mostram como certos discursos religiosos podem naturalizar a violência, reforçar a culpa feminina e desencorajar a busca por proteção legal.




Na opinião de Herminia Azoury, juíza hoje aposentada, mas que dedicou grande parte de seu tempo de magistratura no trabalho de combate à violência familiar no Tribunal de Justiça do Espírito Santo, a denúncia não deveria ser uma dúvida.

“Seja de qualquer denominação religiosa, a mulher não deve se calar. A denúncia é fundamental para sua proteção e até para criação dos filhos, que serão prejudicados se viverem em um ambiente tóxico. Se a mulher está vivendo em um lar desequilibrado, tem que denunciar a violência, sim”.

A juíza aposentada ressalta que, em localidades do interior, ainda existe uma notificação principalmente por falta de informações. Essa ignorância (falta de conhecimento da lei) precisa ser desbravada e combatida. “Muitas não querem denunciar também por dependência emocional e econômica, mas independente disso a lei tem que ser cumprida”.

O que a Bíblia realmente diz?

O Evangelho não legitima a violência. A Bíblia apresenta princípios de dignidade, cuidado e proteção que precisam ser recuperados pelas igrejas.
Em Efésios 5:25 ordena: “Maridos, amem suas esposas como Cristo amou a igreja e se entregou por ela.” A referência não é submissão cega, mas amor sacrificial, que jamais inclui agressão.
Salmos 11:5 diz que Deus “detesta quem ama a violência”.
Provérbios 4:14–15 ensina a evitar caminhos de maldade, não a permanecer neles.

Nenhum texto bíblico autoriza mulheres a manter-se sob risco. Nenhum líder cristão tem respaldo para estimular a continuidade de agressões. A violência doméstica não é um problema privado, mas um crime e denunciar é um ato de coragem, fé e preservação da vida.

Comunhão 

0 Comentários

© Digital Expert Comunicação Visual - Blog Do Diácono Cleiton Albino