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Novo documentário da Netflix mostra como fé e política se misturam no Brasil


Pastores e políticos religiosos orando por Bolsonaro e Lula (Foto: Montagem/Fuxico Gospel)

Pastores e políticos religiosos orando por Bolsonaro e Lula (Foto: Montagem/Fuxico Gospel)
Religious art and decor



O novo documentário Apocalipse nos Trópicos, da cineasta Petra Costa, estreia hoje, quinta-feira (3/7), nos cinemas de São Paulo e do Rio de Janeiro. A partir do dia 14 de julho, o filme também poderá ser assistido no catálogo da Netflix. A obra dá continuidade ao trabalho iniciado em Democracia em Vertigem, longa indicado ao Oscar, e desta vez aborda a crescente presença da religião evangélica na política brasileira — um fenômeno que tem influenciado diretamente os rumos do poder no país.


Segundo dados do IBGE, 26,9% da população brasileira se identifica como evangélica. O número é ainda mais expressivo entre as faixas etárias mais jovens: 31,6% das crianças entre 10 e 14 anos se declaram evangélicas. Com esse pano de fundo, Petra Costa e a produtora Alessandra Orofino decidiram explorar, através do documentário, como a fé tem sido usada estrategicamente por lideranças políticas. Para isso, entrevistaram figuras como Silas Malafaia, Jair Bolsonaro e Lula, em um retrato da “instrumentalização religiosa na vida pública”.



Uma das sequências iniciais do longa mostra um registro inédito captado durante as gravações de Democracia em Vertigem, no qual o ex-deputado Cabo Daciolo realiza uma pregação no plenário do Congresso e entrega uma bíblia à diretora. A partir desse e de outros materiais que não foram incluídos no filme anterior, surgiu o desejo de aprofundar a investigação sobre a bancada evangélica e sua atuação no cenário político nacional.



“O que mais saltava aos olhos era a presença evangélica nas comunidades, oferecendo apoio espiritual, médico e psicológico”, afirma Petra, refletindo sobre o impacto das igrejas durante a pandemia de Covid-19.

Foi esse cenário que inspirou o título Apocalipse nos Trópicos, referindo-se ao discurso religioso de fim dos tempos que ganhou força entre líderes e fiéis. Ao analisar o conteúdo filmado, Petra notou também a disseminação de ideias negacionistas durante a crise sanitária. “Alguns pastores diziam que Jesus curava a Covid”, relata a diretora.

Fé e política


O pastor Silas Malafaia, que conta com mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, ocupa um papel de destaque na narrativa do documentário. A diretora acompanhou de perto sua atuação e proximidade com o então presidente Jair Bolsonaro, que recebia visitas frequentes do líder religioso.

A produção, no entanto, não se restringiu a personagens da direita evangélica. Durante o processo de pesquisa, foram ouvidas diferentes vozes dentro do universo evangélico, com diversas posições ideológicas. “Saíram quase todos com uma revolta em relação à manipulação da fé para fins políticos”, afirma Petra.



Para Alessandra Orofino, o objetivo do documentário é provocar uma reflexão — inclusive entre o próprio público evangélico. “Essa pessoa que tem fé, que eventualmente é evangélica, a gente espera que ela assista o filme. Que esse filme seja o início de uma reflexão, e não o fim de uma reflexão, que ele desperte uma conversa pública sobre esse assunto”, explica.

As gravações também enfrentaram obstáculos. Em 8 de janeiro de 2023, durante os ataques às sedes dos Três Poderes, um manifestante engoliu um cartão de memória usado pela equipe de filmagem. Em outro episódio, durante o ato de 7 de setembro de 2021 convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista, integrantes da equipe foram agredidos por apoiadores.



“Chegou num nível de intolerância muito grande”, diz Petra.



Apesar disso, a diretora destacou que algumas das lideranças religiosas e políticas retratadas no longa foram receptivas com a produção — algo que, para ela, contrasta com o discurso muitas vezes inflamado transmitido aos fiéis.

Futuro

Quando questionada sobre os possíveis desdobramentos políticos e sociais do cenário retratado, Alessandra Orofino responde com cautela: “Não somos profetas”, comenta com leveza. Ainda assim, ela deixa claro que o crescimento do número de evangélicos não é, por si só, motivo de alarme. O problema, segundo a produtora, é quando a fé vira ferramenta de dominação.

“Isso representa não só uma ameaça à própria fé, que pode ser facilmente manipulada e corrompida pelo poder político, mas representa uma ameaça à democracia”, conclui.

Fonte: Metrópoles e Fuxico Gospel

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