Kenneth Bae,
um missionário coreano-americano que passou 735 dias preso, após o
governo norte-coreano afirmar que ele era parte de uma conspiração
cristã para derrubar o regime, revelou que sua fé em Deus lhe deu a
força para sobreviver durante o tempo em cativeiro.
Em sua primeira entrevista ao vivo desde a sua liberdade no final de
2014, Bae, 47, descreveu o abuso físico e verbal que ele sofreu durante
sua prisão no programa “New Day” (Novo Dia, em tradução livre) do canal
CNN.
"Eu trabalhava das 8 da manhã até às 6 da noite, no campo, levando
rochas e pás de carvão", disse Bae. Ele disse que um promotor falava
repetidamente: “Ninguém se lembra de você. Você foi esquecido pelas
pessoas e pelo seu governo. Você não vai para casa tão cedo. Você vai
ficar aqui por 15 anos. Você vai estar com mais de 60 antes de ir para
casa”.
Enquanto ele esteve no cativeiro, a saúde de Bae foi se deteriorando
rapidamente e ele perdeu muitos quilos. No entanto, após os esforços
diplomáticos, o pastor foi finalmente libertado. "Eu sou grato a cada
dia e grato por tantas pessoas que estavam envolvidos na tentativa de me
levar para casa", disse ele. "É irreal apenas o fato de saber que eu
estou realmente sentado nesse estúdio falando com você. 735 dias na
Coreia do Norte foi o tempo suficiente. Mas eu sou grato", pontuou.
Ele acrescentou: "Ao longo do caminho, eu encontrei o meu jeito se
adaptar à vida na prisão norte-coreana, dependendo apenas de Deus. E eu
sabia que o governo dos EUA faria todo o possível para me trazer de
volta pra casa", respondeu Bae, que tem três filhos e nasceu na Coreia
do Sul, imigrando para os EUA com seus pais e irmã em 1985.
Ele estava vivendo na China como um missionário cristão cerca de sete
anos antes de sua prisão em 2009. Nos últimos anos, ele começou a
liderar pequenos grupos de turistas, a maioria eram cidadãos americanos e
canadenses, em uma "zona econômica especial" destinada a incentivar o
comércio na Coreia do Norte.
Ele estava conduzindo uma excursão, quando foi preso em novembro de
2012, e foi condenado em abril de 2013 sobre "atos hostis". Em novembro
de 2014, o Departamento de Estado dos EUA anunciou que havia assegurado a
liberação de Bae e outro americano pela Coreia do Norte, Matthew Todd
Miller. Falando à CNN, Bae revelou que em breve lançará um livro de
memórias publicado pela HarperCollins, que terá "fortes conotações
religiosas".
"Uma coisa que eu quero que as pessoas obtenham por meio da leitura
desse livro, é a fidelidade de Deus", disse Bae. "Depois que fui
liberado, me lembrei de que Deus não esqueceu o povo da Coreia do Norte".
Grupos cristãos dizem que há pelo menos mais 100 mil cristãos presos em
campos de prisão do país, onde os prisioneiros enfrentam tortura,
trabalho forçado e possível execução.
Na Coreia do Norte, a prática do cristianismo é ilegal; na verdade, para
o 14º ano consecutivo, o país superou a lista do ministério “Portas
Abertas” de países em que os crentes enfrentam a maior perseguição. "O
cristianismo não é apenas visto como o ‘ópio do povo’, como é normal
para todos os estados comunistas, também é visto como profundamente
ocidental e desprezível", diz o relatório. "Os cristãos tentam esconder a
sua fé, tanto quanto possível para evitar a prisão e serem enviados
para campos de trabalho com condições terríveis. Assim, a fé cristã
geralmente permanece em segredo e bem protegida, e a maioria dos pais se
abstém de introduzir os seus filhos na fé cristã".
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